Thursday, October 27, 2016

9.

Ó poesia sonhei que fosses tudo”

Que verso estranho... não é que explicitamente diz algo extraordinária ou fora do que é normal ou aceito no geral, mas é que ao refletir, o leitor descobre que realmente é uma declaração um tanto curiosas.

Primeiramente, o narrador está dirigindo suas palavras à poesia. Está falando com um gênero como se fosse um ser distinto. Como se pudesse, de algum jeito, ser recebedor de uma conversa.

Este fato é feito mais significante pelas palavras ditas à poesia. “Sonhei que fosses tudo” – como se ele esperasse que a poesia fosse um salvador, uma cura milagrosa por alguma dor da alma. Sonhou que a poesia fosse mais do que é – apenas uma coleção de palavras em bocas, papeis, livros...

O desapontamento talvez seja exacerbado pelo descobrimento que a poesia se compõe apenas do que há em nossos corações, cabeças e mentes. Quem foi que sonhou que a poesia fosse esse milagre, certo dia, teve que enfrentar o simples fato que a poesia não é nada além de nós mesmos. A poesia não necessariamente tem qualquer poder para nos salvar que nós mesmos não temos.

Também chama atenção a palavra “sonhei”, em contrasto com a palavra “sonhava”. Esta diferença alude ao fato que esta petição à graça da poesia possa ter sido apenas um instante de esperança, mas nada além de uma picada. Ele não sonhava da poesia, mas apenas sonhou. Pensamos então qual seria a situação tão triste e desesperado que alguém precisaria clamar à poesia. Deve ser extremamente triste.


Ó poesia, sonhei que fosses tudo? Poderá ser, só se eu for mais que tudo.

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