“Ó poesia
sonhei que fosses tudo”
Que verso estranho... não é que explicitamente
diz algo extraordinária ou fora do que é normal ou aceito no geral, mas é que
ao refletir, o leitor descobre que realmente é uma declaração um tanto curiosas.
Primeiramente, o narrador está dirigindo suas
palavras à poesia. Está falando com um gênero como se fosse um ser distinto.
Como se pudesse, de algum jeito, ser recebedor de uma conversa.
Este fato é feito mais significante pelas
palavras ditas à poesia. “Sonhei que fosses tudo” – como se ele esperasse que a
poesia fosse um salvador, uma cura milagrosa por alguma dor da alma. Sonhou que
a poesia fosse mais do que é – apenas uma coleção de palavras em bocas, papeis,
livros...
O desapontamento talvez seja exacerbado pelo
descobrimento que a poesia se compõe apenas do que há em nossos corações,
cabeças e mentes. Quem foi que sonhou que a poesia fosse esse milagre, certo
dia, teve que enfrentar o simples fato que a poesia não é nada além de nós
mesmos. A poesia não necessariamente tem qualquer poder para nos salvar que nós
mesmos não temos.
Também chama atenção a palavra “sonhei”, em
contrasto com a palavra “sonhava”. Esta diferença alude ao fato que esta
petição à graça da poesia possa ter sido apenas um instante de esperança, mas
nada além de uma picada. Ele não sonhava da poesia, mas apenas sonhou. Pensamos
então qual seria a situação tão triste e desesperado que alguém precisaria
clamar à poesia. Deve ser extremamente triste.
Ó poesia, sonhei que fosses tudo? Poderá ser,
só se eu for mais que tudo.
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