Thursday, October 20, 2016

8.

É querer estar preso por vontade; / É servir a quem vence, o vencedor”

Em analisar estes pequenos versos, é primeiramente necessário reconhecer o fato que Camões é um dos maiores poetas da língua portuguesa, e qualquer desentendimento de suas obras obviamente é uma falha em nossas capacidades de analisar, e não em suas capacidades de escrever e criar. Ele nadou com uma mão, salvando suas obras de uma morte marítima com a outra. O homem merece respeito.

Tendo dito isso, podemos então fazer uma tentativa a ver o que é que ele estava descrevendo. Começamos com sua primeira declaração – querer estar preso por vontade. Há nisso um certo elemento de paradoxo – certamente alguém não está preso se entra por vontade. Mas não é necessariamente a entrada que é feita de acordo com nossa vontade, pois muitas vezes caímos em amor mesmo sem querer. Quando isso acontece, queremos ficar com aquela pessoa, queremos mesmo ser dela – não queremos mais sair. Ficamos contentes em não ter mais a opção de ver outras – ficamos assim presos. Mas é isso que queremos desta pessoa amada. E assim queremos estar presos – entrando sem querer, não querendo nem sair nem ter a opção de sair.

Mas piora! O homem não se contenta com a vida presa – não, seria tão fácil assim. O homem quer vencer – coração, amor, sentimento, emoção – e depois se abaixar em serviço ao derroto. O homem em si é um paradoxo – quer fazer tudo para a pessoa que imagina fazendo tudo por ele. É auto abusivo – faz tudo, tudo, tudo mesmo, para esta pessoa sem promessa nem oferta de recompensa. Quer vencer e se fazer escravo, se for necessário. Quer servir. Quer estar preso. E para que?


Ah, sim... agora lembro. Eu faria igual.

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