“Duarte
olhou para ele, para a mesa, para as paredes, esfregou os olhos, respirou à
larga.
- Então!
Que tal lhe pareceu? ”
Na primeira
linha, vemos que o bacharel, Duarte, acorda do seu sonho. Não é claro se ele
realmente estava dormindo ou se estava apenas viajando – bem distante – em sua
imaginação, mas de qualquer jeito, aqui ele volta ao presente. Esfregando os
olhos, ele então ouve uma boa pergunta do major.
Vemos então
a parte mais engraçada da história inteira! A pergunta do major, ele sendo tão
retirado mentalmente dos acontecimentos. Um homem tão abstraído. O modo que ele
pergunta – Então! Que tal lhe pareceu? – é tão inocente, como se não suspeitasse
nada do bacharel. O que fica engraçado, então, é imaginar o seguinte: o major estava
lendo a peça dele por umas quatro horas. O Duarte estava prestando atenção,
pelas indicações no texto, por mais ou menos uma hora. Quer dizer então que o
major estava lendo, basicamente para ninguém, por três horas seguidas sem
perceber que o seu amigo não estava prestando atenção em nada que dizia!
Esse fato
deixa a caraterização do major mais engraçada ainda. Pensamos num homem tão abstraído...
como que alguém consegue ler três horas sem perceber que seu único ouvinte nem
está ouvindo? Será que ele teria percebido, se o Duarte tivesse saído da sala fisicamente
também? Que mais será que o major deixa de perceber no seu dia a dia? Será que
ele sairia da casa sem sapatos, sua mente tão absorvida em outras imaginações
que o fato lhe passa despercebido? Ou será que ele é aquele que bota a comida
no forno e se lembra dela apenas com a ajuda do detector de fumaça?
Talvez seja
exagero. Ou talvez não, mas de qualquer maneira, o fato é que é difícil imaginar
alguém lendo três horas sem perceber que está sendo ignorado o tempo todo. Que
tipo de efeito isso tem no resto da história? Talvez nenhum, depende na sua
imaginação. Que tipo de efeito isso tem na vida de alguém? Bom... preste atenção
quando lê para seus amigos.
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