“O Padre
falou-me, aceitei com ambas as mãos, estava já enfarado de copiar citações latinas
e fórmulas eclesiásticas. ”
“...arrependia-me
de ter vindo. — "Maldita a hora em que aceitei semelhante coisa! ” exclamava.”
É incrível
o impacto que as circunstâncias têm em nossa percepção de eventos. Quer dizer,
o mesmo evento pode nos aparecer uma benção ou uma maldição, dependendo das
circunstâncias em que nos encontramos. Para ilustrar esse princípio, faremos um
exemplo juntos. Pense na piada mais engraçada que você já ouviu. Certamente
essa piada seria apropriada e até popular num show de comédia, mas você mesmo
seria aborrecido ao ouvir a mesma piada contada em, por exemplo, um velório, ou
um sermão no domingo. O protagonista estava tão animado de sair e aceitar essa
posição de enfermeiro – afinal, “estava já enfarado de copiar citações” – mas logo
arrependia-se de ter aceitado a oportunidade, devendo às circunstâncias menos favoráveis
em que se encontrava logo após a morte do coronel.
Mas será
que esta é a verdade? Pode ser que sim, mas eu gostaria de propor uma outra
ideia. Muitas vezes, culpamos tudo além de nós mesmos por nossas dificuldades.
Neste caso, a dificuldade foi de tamanho considerável, o Procópio tendo matado
o coronel. Mas qual foi a sua reação inicial? Uma das primeiras coisas que ele
disse foi uma maldição contra a posição que ele, uma vez, foi tão animado a
receber. Vemos também que ele não se culpa diretamente por ter aceitado a posição
– “maldita a hora”, ele fala, não “maldito sou eu”, “que decisão errada”, ou
algo do tipo. Ele reflete uma grande tendência das pessoas em geral, a tendência
de achar um bode expiatório que possa suportar o peso de nossa própria culpa.
Erramos na pintura, foi o pincel – mas se tivesse dado certo, teria sido consequência
de nosso talento na área de pintura.
Nesse conto
vemos que o Procópio é humano. Ele tem suas falhas. Matando um homem pode ser
uma dessas, mas não discutiremos isso agora. Basta dizer que muitas vezes, na
mente humana, ninguém é culpado por sua própria culpa.
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