Thursday, September 15, 2016

3.

“Conceição padecera, a princípio, com a existência da comborça; mas afinal, resignara-se, acostumara-se, e acabou achando que era muito direito.

Boa Conceição!”

Esta frase é facilmente lida e esquecida, mas ao reparar mostra uma progressão curiosa. No início lemos que a Conceição padecia por causa da comborça do marido dela. Isto é entendível, até o que esperaríamos. Qual mulher boa não sofreria por causa de adultério no relacionamento? Depois descobrimos que ela se acostumara com os acontecimentos. Isto também é entendível, especialmente quando se leva em consideração a frequência com que o marido ficava com outra. Mas a última parte levanta uma certa discussão: ela “acabou achando que era muito direito”. Como uma mulher boa acharia esse tipo de relacionamento muito direito? Acostumar-se, talvez. Achar aceitável, seria mais difícil encontrar alguém com esse ponto de vista. Mas “muito direito”... a frase que segue, “Boa Conceição! ”, então faz o leitor pensa... de que maneira ela era tão boa?

Uma teoria é que o comentário foi escrito com um tom de sarcasmo. No texto parece muito que essa mulher “boa”, que carregue nome de santa, está seduzindo um outro homem – não, um jovem, um rapaz. Podemos especular, então, que o episódio relatado foi um certo tipo de vingança na parte da Conceição. Que foi a “vez dela”. Se este é o caso, a bondade dela pode ser interpretada como bondade sarcástica. Pode também ser uma descrição do Sr. Nogueira de uma bondade física experimentada pessoalmente.

Então nos perguntamos, de que maneira ela é boa? Devemos entender como uma bondade de caráter? Devemos entender como um comentário sarcástico que ataca o caráter dela? Devemos entender como uma confissão sútil do Sr. Nogueira ter experimentado a bondade física dela? Ou será que há outra maneira de explicar sua bondade?


Que pena que não há maneira de conhecer personagem pessoalmente... 

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