“Conceição
padecera, a princípio, com a existência da comborça; mas afinal, resignara-se,
acostumara-se, e acabou achando que era muito direito.
Boa
Conceição!”
Esta frase
é facilmente lida e esquecida, mas ao reparar mostra uma progressão curiosa. No
início lemos que a Conceição padecia por causa da comborça do marido dela. Isto
é entendível, até o que esperaríamos. Qual mulher boa não sofreria por causa de
adultério no relacionamento? Depois descobrimos que ela se acostumara com os
acontecimentos. Isto também é entendível, especialmente quando se leva em
consideração a frequência com que o marido ficava com outra. Mas a última parte
levanta uma certa discussão: ela “acabou achando que era muito direito”. Como
uma mulher boa acharia esse tipo de relacionamento muito direito? Acostumar-se,
talvez. Achar aceitável, seria mais difícil encontrar alguém com esse ponto de
vista. Mas “muito direito”... a frase que segue, “Boa Conceição! ”, então faz o
leitor pensa... de que maneira ela era tão boa?
Uma teoria
é que o comentário foi escrito com um tom de sarcasmo. No texto parece muito
que essa mulher “boa”, que carregue nome de santa, está seduzindo um outro
homem – não, um jovem, um rapaz. Podemos especular, então, que o episódio
relatado foi um certo tipo de vingança na parte da Conceição. Que foi a “vez
dela”. Se este é o caso, a bondade dela pode ser interpretada como bondade
sarcástica. Pode também ser uma descrição do Sr. Nogueira de uma bondade física
experimentada pessoalmente.
Então nos
perguntamos, de que maneira ela é boa? Devemos entender como uma bondade de
caráter? Devemos entender como um comentário sarcástico que ataca o caráter dela?
Devemos entender como uma confissão sútil do Sr. Nogueira ter experimentado a
bondade física dela? Ou será que há outra maneira de explicar sua bondade?
Que pena
que não há maneira de conhecer personagem pessoalmente...
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