Thursday, September 29, 2016

5.

"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar."
Esta frase tem um sentido que se aplica em vários aspectos de nossa vida. Pode-se aplicar, por exemplo, à posse de algum objeto ou bem; também pode ser usado em caso de relacionamento humano. Vamos olhar brevemente as duas opções.

Como gostar pode ser a melhor maneira de ter? Apenas gostar de um objeto sem o possuir tem alguns pontos atraentes. Por exemplo, não custa nada. Claro, o objeto em questão não é seu, mas os sonhos divagados são uma excelência. Não custando nada, temos então a possibilidade de “ter” qualquer versão do objeto com apenas o mudo de um pensamento. A liberdade de ter uma coisa e então outra é ilimitada. De uma forma mais concreta, pode-se dizer também que esta frase indica que é melhor gostar antes de ter, em vez de ter para gostar. Isto nos leva à segunda parte da frase.

Muitas vezes, compramos coisas sem pensar, sem considerar alternativas, e sem nos perguntar a respeito da necessidade da compra. Muitas vezes arrependemos compras feitas, e então temos que enfrentar o fato que ter é a pior maneira de gostar. É difícil e chato, aprender a gostar de alguma coisa apenas porque estamos na situação. Supomos que haja na mesa uma sopa que não gostamos. Se não tiver mais nada para comer, então poderemos aprender a gostar da sopa. Mas não seria muito melhor se houvesse lá nossa sopa preferida? Assim, é ruim gostar por ter, mas é incrível ter por gostar.
Assim é com relacionamentos. O triste fato é que muitas pessoas se envolvem em relacionamentos por motivos além de gostar daquela pessoa. Alguém pode aprender a gostar por estarem juntos, mas é mil vezes melhor – infinitamente melhor – gostar de alguém, e então ter aquela pessoa por gostar dela.

Histórias e citações muitas vezes nos oferecem lições de grande valor que podem ser aplicadas em nossa vida. Qual é a lição aqui então? Bem, uma delas pode ser a seguinte: não compre algo de que não gosta. Não fique com alguém que não quer. Parece fácil? Duvido que nunca quebrou uma dessas regras. 

Thursday, September 22, 2016

4.

“Duarte olhou para ele, para a mesa, para as paredes, esfregou os olhos, respirou à larga.

- Então! Que tal lhe pareceu? ”

Na primeira linha, vemos que o bacharel, Duarte, acorda do seu sonho. Não é claro se ele realmente estava dormindo ou se estava apenas viajando – bem distante – em sua imaginação, mas de qualquer jeito, aqui ele volta ao presente. Esfregando os olhos, ele então ouve uma boa pergunta do major.

Vemos então a parte mais engraçada da história inteira! A pergunta do major, ele sendo tão retirado mentalmente dos acontecimentos. Um homem tão abstraído. O modo que ele pergunta – Então! Que tal lhe pareceu? – é tão inocente, como se não suspeitasse nada do bacharel. O que fica engraçado, então, é imaginar o seguinte: o major estava lendo a peça dele por umas quatro horas. O Duarte estava prestando atenção, pelas indicações no texto, por mais ou menos uma hora. Quer dizer então que o major estava lendo, basicamente para ninguém, por três horas seguidas sem perceber que o seu amigo não estava prestando atenção em nada que dizia!

Esse fato deixa a caraterização do major mais engraçada ainda. Pensamos num homem tão abstraído... como que alguém consegue ler três horas sem perceber que seu único ouvinte nem está ouvindo? Será que ele teria percebido, se o Duarte tivesse saído da sala fisicamente também? Que mais será que o major deixa de perceber no seu dia a dia? Será que ele sairia da casa sem sapatos, sua mente tão absorvida em outras imaginações que o fato lhe passa despercebido? Ou será que ele é aquele que bota a comida no forno e se lembra dela apenas com a ajuda do detector de fumaça?


Talvez seja exagero. Ou talvez não, mas de qualquer maneira, o fato é que é difícil imaginar alguém lendo três horas sem perceber que está sendo ignorado o tempo todo. Que tipo de efeito isso tem no resto da história? Talvez nenhum, depende na sua imaginação. Que tipo de efeito isso tem na vida de alguém? Bom... preste atenção quando lê para seus amigos.

Thursday, September 15, 2016

3.

“Conceição padecera, a princípio, com a existência da comborça; mas afinal, resignara-se, acostumara-se, e acabou achando que era muito direito.

Boa Conceição!”

Esta frase é facilmente lida e esquecida, mas ao reparar mostra uma progressão curiosa. No início lemos que a Conceição padecia por causa da comborça do marido dela. Isto é entendível, até o que esperaríamos. Qual mulher boa não sofreria por causa de adultério no relacionamento? Depois descobrimos que ela se acostumara com os acontecimentos. Isto também é entendível, especialmente quando se leva em consideração a frequência com que o marido ficava com outra. Mas a última parte levanta uma certa discussão: ela “acabou achando que era muito direito”. Como uma mulher boa acharia esse tipo de relacionamento muito direito? Acostumar-se, talvez. Achar aceitável, seria mais difícil encontrar alguém com esse ponto de vista. Mas “muito direito”... a frase que segue, “Boa Conceição! ”, então faz o leitor pensa... de que maneira ela era tão boa?

Uma teoria é que o comentário foi escrito com um tom de sarcasmo. No texto parece muito que essa mulher “boa”, que carregue nome de santa, está seduzindo um outro homem – não, um jovem, um rapaz. Podemos especular, então, que o episódio relatado foi um certo tipo de vingança na parte da Conceição. Que foi a “vez dela”. Se este é o caso, a bondade dela pode ser interpretada como bondade sarcástica. Pode também ser uma descrição do Sr. Nogueira de uma bondade física experimentada pessoalmente.

Então nos perguntamos, de que maneira ela é boa? Devemos entender como uma bondade de caráter? Devemos entender como um comentário sarcástico que ataca o caráter dela? Devemos entender como uma confissão sútil do Sr. Nogueira ter experimentado a bondade física dela? Ou será que há outra maneira de explicar sua bondade?


Que pena que não há maneira de conhecer personagem pessoalmente... 

Thursday, September 8, 2016

2.

“O Padre falou-me, aceitei com ambas as mãos, estava já enfarado de copiar citações latinas e fórmulas eclesiásticas. ”

“...arrependia-me de ter vindo. — "Maldita a hora em que aceitei semelhante coisa! ” exclamava.”

É incrível o impacto que as circunstâncias têm em nossa percepção de eventos. Quer dizer, o mesmo evento pode nos aparecer uma benção ou uma maldição, dependendo das circunstâncias em que nos encontramos. Para ilustrar esse princípio, faremos um exemplo juntos. Pense na piada mais engraçada que você já ouviu. Certamente essa piada seria apropriada e até popular num show de comédia, mas você mesmo seria aborrecido ao ouvir a mesma piada contada em, por exemplo, um velório, ou um sermão no domingo. O protagonista estava tão animado de sair e aceitar essa posição de enfermeiro – afinal, “estava já enfarado de copiar citações” – mas logo arrependia-se de ter aceitado a oportunidade, devendo às circunstâncias menos favoráveis em que se encontrava logo após a morte do coronel.

Mas será que esta é a verdade? Pode ser que sim, mas eu gostaria de propor uma outra ideia. Muitas vezes, culpamos tudo além de nós mesmos por nossas dificuldades. Neste caso, a dificuldade foi de tamanho considerável, o Procópio tendo matado o coronel. Mas qual foi a sua reação inicial? Uma das primeiras coisas que ele disse foi uma maldição contra a posição que ele, uma vez, foi tão animado a receber. Vemos também que ele não se culpa diretamente por ter aceitado a posição – “maldita a hora”, ele fala, não “maldito sou eu”, “que decisão errada”, ou algo do tipo. Ele reflete uma grande tendência das pessoas em geral, a tendência de achar um bode expiatório que possa suportar o peso de nossa própria culpa. Erramos na pintura, foi o pincel – mas se tivesse dado certo, teria sido consequência de nosso talento na área de pintura.


Nesse conto vemos que o Procópio é humano. Ele tem suas falhas. Matando um homem pode ser uma dessas, mas não discutiremos isso agora. Basta dizer que muitas vezes, na mente humana, ninguém é culpado por sua própria culpa. 

Thursday, September 1, 2016

1.

"the term interpretation means different things, but most of these involve perceiving complex data, seeing relationships, and inferring meaning. ...few things we do are free of interpretation."

Acho interessante esta observação que poucas coisas em nossa vida são livres de interpretação. Até considerando essa definição de interpretação, podemos, no início, duvidar. Aqui se fala, por exemplo, de perceber dados complexos. Quantas vezes no dia fazemos isso? Uma? Duas, talvez? Nenhuma? Então como essa conclusão pode-se fazer, como podemos dizer que quase tudo é sujeito à interpretação quando mal conseguimos identificar três exemplos entre centenas ou milhares de atos diários?

A verdade é que interpretação, em muitas situações, tem se tornado em um ato de instinto, algo que fazemos sem pensar. Um bom exemplo se apresenta ao começar um novo semestre aqui na BYU. O aluno entra, no primeiro dia, numa sala que contem umas 30 carteiras e 15 alunos. Ele está apresentado com umas 15 opções. Onde ele vai se sentar? Como ele vai escolher? Como ato intuitivo, ele começa a interpretar. Ele considere a vista da tela onde o professor vai apresentar as lições. Ele olha por amigos, talvez, alguém que ele conhece na sala. Ele não quer se sentar em frente, mas também não quer dar uma má impressão de si, sentando bem atrás de todo mundo. Ele procura uma moça bonita; talvez vá se sentar ao lado dela. Em um prazo de 4 ou 5 segundos, ele considere várias informações, interpretando a sala, e então escolha seu lugar.

Fazemos interpretação de quase tudo, então. Que tipo de música você escuta? Já considerou porquê? Será que é por causa da letra? Ou do ritmo? Ou porque o objeto da sua afeção escuta o mesmo grupo? A maioria das coisas que fazemos são por causa de nossas decisões, decisões que tomamos ao interpretar pessoas, oportunidades, opções e alternativas.