Thursday, November 17, 2016

12.

“Zé: Moço, eu vim só pagar uma promessa. A Santa me conhece, não precisava trazer carteira de identidade. ”

A natureza e caráter dos personagens na peça podem ser disputados pelos leitores. No caso do Zé-do-Burro, pode ser dito que a morte dele foi sua própria culpa. Pode ser dito que foi a culpa dos guardas e secretas que não o ajudaram. Mas independentemente de qualquer coisa, esta declaração simples do Zé mostra um esforço do autor em tocar o coração do leitor.

Em sua confrontação com as autoridades, Zé mostra uma natureza ingênua que contrasta fortemente com o sarcasmo e cinismo deles. Primeiramente, observa-se a maneira em que ele chama o delegado de “Moço”, como se fosse um amigo, conhecido, ou vizinho amigável. Em seguido é sua declaração de proposito: “eu vim só pagar uma promessa. ” Ele fala como se uma explicação resolveria tudo. Obviamente ele não entendia a natureza de burocracia. Por fim, sua declaração religiosa mostra uma confiança na fé do delegado – uma confiança que, olhando para trás, ele não deveria ter tido.

A maneira que ele é tratado pelas autoridades deixa a cena mais aguda. Rudeza e outras formas de mal tratamento sempre tocam mais os corações de outras pessoas quando são respondidas com inocência. O fato do Zé ser morto logo depois deixa os acontecimentos mais trágicos ainda nos olhos do leitor.


A lição real aqui, na verdade, é difícil perceber. O fato é que há várias lições que podem ser aprendidas aqui. A própria natureza de teatro e outras formas de literatura deixa o leitor aprender o que quer aprender. Uma lição que eu aprendi é: nunca carregue uma cruz até uma igreja para salvar um burro. 

Thursday, November 10, 2016

11.

“ (Contorce-se num ritus de dor. Despe uma das mangas do paletó).
Acho que os meus ombros estão em carne viva. ”

Aqui se mostram, bem no início, uma parte importante do caráter do Zé. A sue fidelidade à promessa que fez é mostrado em umas maneiras, a mais óbvia sendo sua disciplina em carregar a cruz gigante e pesada. Uma das maneiras mais sutis e como ele está vestido. Diz que ele estava de paletó. Existem várias maneiras porque alguém não ia querer carregar a cruz de paletó – para não estragar a roupa; para não ficar desconfortável, não podendo mexer os braços, para não ficar com muito calor, e devem existir mais.

Sua devoção é magnificada aqui pela justaposição do paletó, um símbolo de estilo e apresentação social, contra os ombros, que “estão em carne viva”. Alguém pode imaginar o tecido lindo e preto de um paletó, pensando em como é bonito e estiloso, e então compara a imagem com a de um ombro em carne viva, sangrento, vermelho e feio. O Zé é dedicado mesmo.


A lição? Carregue sua cruz em jaqueta de calça jeans. 

Thursday, November 3, 2016

10.

""Mísera! tivesse eu aquela enorme, aquela / Claridade imortal, que toda a luz resume!""

O poema inteiro é uma representação do descontentamento do homem consigo. Aqui, Machado mostra a ironia deste fato por meio dos desejos tolos da lua, a qual está demonstrando sua inveja do sol. A ironia aqui é tão forte que dá uma certa graça à situação! A lua queria que tivesse a claridade do sol, a “claridade imortal, que toda a luz resume”. O que não vê é que sua luz é um reflexo direto da luz do sol, e que a sua claridade não é simplesmente parecida com a do sol, mas é a própria claridade do sol. São observações como essa que se perdem na inveja e sua polução do juízo. Homens possuídos pelo desejo de algo aparentemente melhor, especialmente quando aquilo parece distante ou difícil de conseguir, muitas vezes deixam de ver que algo em sua posse é parecido, igual, ou melhor que o objeto de seu cobiço.